Ele abriu a porta lentamente. Todas as luzes da casa estavam apagadas, mas a luz do dia adentrava pela fresta da porta que se abria. Já fazia muito tempo, mas ele tentou ligar a luz mesmo assim. Confirmado. A luz não ligava, mais uma coisa que teria que consertar. Ele então fechou a porta e abriu as cortinas, era uma bonita casa, provavelmente não a mais bonita da cidade, mas ainda assim guardava a sua beleza. Tudo ali lhe lembrava alguma coisa, e principalmente o arquivo que ele finalmente encontrara. Abriu. Ali estavam os seus textos antigos, ele ria com alguns, e se impressionava com os erros cometidos na redação de outros. Ou todos. Quase. Mas ainda assim ele lembrava que algumas pessoas pareciam gostar deles, fez daquele arquivo quase que seu diário pessoal, e, através de uma escrita quase que codificada (ainda que não muito bem codificada, convenhamos) expunha seus medos, temores e anseios. E, por falar em lembrar, como já dissemos, tudo ali trazia alguma lembrança, e ele era assim, sempre que se lembrava de alguma coisa, via o seu eu no passado, pensava em suas falhas, ou alguma outra coisa, e isso de alguma forma lhe trazia uma certa… dor? Amargor? É difícil definir, mas ele se sentia falho. Não era amargo, por mais que os golpes da vida o acertassem - e eles acertam todo mundo - ele sempre encontrava um motivo pra sorrir. Se sentou à mesa. Olhou pela janela, o olhar distante. O papel à sua frente. Pegou um lápis e começou a escrever…
-Preciso lembrar de consertar as luzes - pensou. E então voltou a escrever.